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Cartinhas, vida corrida aos quase 30 e amizades eternas


Quando eu tinha 12 anos, fui abduzida do coração do Rio Grande para o oeste paranaense. Minha mãe passou num concurso para ser professora de uma universidade estadual e, diante da importância da conquista, me mudei com ela. Deixei pra trás não apenas meu pai e minha irmã mais velha, mas amigos e amigas.

A Gabi foi uma delas, com certeza a principal. Nos conhecemos ainda na infância crua, 2 ou 3 anos, e, mesmo ela sendo um ano mais velha, aturou a pirralha aqui e me levou de tiracolo até nas festinhas dos colegas. Os 750 km que passaram a nos separar não foram suficientes para afastar essa amizade. Hoje, a Gabi é, além de muito minha amiga, uma das cinco madrinhas de casamento.

Desde pequena, eu mandava cartinhas ou bilhetes pra Gabi. Numa delas disse que ela era “a melhor criança do mundo”. Como em 2001, ano da mudança para o Paraná, a internet ainda era discada, cara e tinha que esperar dar meia-noite pra conectar, o jeito foi apelar pros Correios. Com a ajuda do carteiro, eu e Gabi mantivemos contato até surgir a banda larga.

Numa das cartas que ela releu recentemente e me mandou, datada de 9 de agosto de 2003, eu reclamava: “queria falar contigo, mas tá uma economia que dá nojo aqui em casa”... “hum, tem um detalhe: tá caro mandar carta, né, hehehe”. TEMPOS DIFÍCEIS, AMIGOS! Obrigada por existir WhatsApp e Wi-Fi!

Só que nem todas as amizades se sustentam com a distância, não é mesmo? E nem sempre tem uma explicação, um fim trágico. Simplesmente vieram novas mudanças de cidade, a tal da vida corrida...

Nestes dias em que passo no Paraná, tenho exercitado a memória. E tudo começou, ou continuou, por causa das cartinhas.

Num fim de domingo de julho, recebi um whats da Lili, amiga da adolescência. Nível de amizade 1: sentar num banco de madeira do lado dela na empolgante uma hora de aula de pintura que a Lili fazia de tarde. Nível de amizade 2: ter, mesmo após duas mudanças de cidades, um quadro pintado por ela, presente de 15 anos, na cabeceira da cama em Porto Alegre.

Ela releu as dezenas de cartinhas que mandei dos 13 aos 17 anos. Ao contrário da Gabi, neste caso a distância era no máximo um bairro para o outro, e nos víamos todo dia na aula. Vai entender, adolescentes... Eis que uma mensagem de whats da Lili, um contato feito depois de muitos anos de silêncio, me emocionou. Uma parte: “lembrei de como eu sempre te achava tão madura e inteligente; de como você era uma boa conselheira e a melhor ‘segura vela’ de todos os tempos e, por fim, da sua partida com a promessa de nos encontrarmos sempre...”

Ai, sério, por que você veio vida corrida? QUEM TE CHAMOU???

Seguimos pro momento sabedoria da Lili: “entendi que a vida nos leva por caminhos diferentes, mas jamais consegue tirar de nossos corações todas as boas lembranças e o amor que um dia cativamos pelos amigos verdadeiros”. Palmas pra Lili, por favor!!

Ontem, tive mais um reencontro, dessa vez com a Jana, amiga e colega da 7ª e 8ª série. Adivinha? Ela também tem cartinhas minhas guardadas! Mas, desta vez, foi uma lembrança ainda viva na memória dela, em que eu participava, que fez ela chamar na caixinha do Messenger pra comentar. E eu, na onda de dar um basta no “vamos nos ver” da boca pra fora, propus marcar um encontro depois de tanto tempo. E foi muito bom!!! Ela, que já acompanha meu processo de emagrecimento pelas redes sociais, sugeriu uma caminhada. E o resultado foi uma hora e meia de conversa boa e exercício.

Depois, pelo whats, sempre surgem os tópicos que faltaram na atualização de vida e as constatações que assustam, que a Jana bem lembrou: “faz uns 15 anos que a gente não se via. Você acredita nisso? Metade da nossa vida. E não esqueço nunca o dia do seu níver e também que é mais velha do que eu (por pouca coisa) hehehehe”.

Aqui vale uma ressalva pra capacidade de armazenamento de nomes e datas tanto da Lili quanto da Jana. São surpreendentes! Eu fico até pensando se, em algum momento da faculdade ou do começo da vida de CLT, eu não bati a cabeça e fiquei só com fatos principais guardados.

Bom, esse texto todo, meio confuso, é só pra te dizer: escreva cartinhas pros teus amigos e peça para eles guardarem. Tá bem, vamos substituir o papel e a caneta pela digitação no celular e print das melhores mensagens. Elas serão úteis quando a vida corrida chegar e, principalmente, quando você mandar ela dar um tempo porque, do jeito que está, não vai passar dos 30! Ah, os 30!! Eles estão chegando pra mim, em outubro (4 dias antes da Jana), mas serão mais leves depois da avaliação que recebi hoje: “parece a mesma menina que conheci, mas de cabelos mais curtos e pintados hehehe”.

E, se você não tem as cartinhas pra te fazer reviver os momentos e te animar para um “vamos nos ver” de verdade, tenta buscar lá nas fotos antigas quem que estava sempre do seu lado na hora do parabéns ou sentou contigo nas viagens da turma de ônibus.

“Às vezes, nem lembramos direito como iniciamos e mantemos os vínculos com as pessoas, mas quando relemos cartinhas, temos a oportunidade de nos darmos por conta do quanto éramos importante na vida dos outros e vice-versa”. Fala bonita, né?! É da psicóloga Gabriela Weber Itaquy (Gabi, pros mais íntimos), aquela com quem marquei de reler as cartinhas da infância e adolescência assim que voltar pra Porto Alegre.

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