Renove-se
Quão previsível e repetitivo você tem sido?
Todo dia eu almoçava no mesmo restaurante. Era perto. Era cômodo. Era simples. Tinha comida boa e preço razoável. Os donos eram atenciosos e simpáticos. Na despedida, após pagar a conta, o proprietário sempre lascava um “até amanhã”. Quando eu respondia com as mesmas palavras, eu me sentia firmando um compromisso de retornar no dia seguinte. E não era marketing do restaurante. Era natural.
Até que um dia, quando cumpri o ritual de me servir, a dona já estava com a minha comanda preenchida. Sabia que entraria no buffet livre, como todo santo dia. Chegou até a marcar o suco de laranja que eu sempre pedia. Quando escolhi a mesa e larguei o prato, o garçom já veio com o suco servido em minha direção. Eu nem havia pedido.
Foi gentil. Uma bela demonstração de apreço pelo fiel cliente. Mas o efeito em mim foi exatamente o reverso. Fiquei assustado com a minha previsibilidade. Nem havia percebido, para falar a verdade. Na saída do restaurante, paguei e me despedi sem o tradicional “até amanhã”. No dia seguinte, fui almoçar em outro lugar.
Muitas vezes a gente faz as coisas no automático. Muitas tarefas são tão rotineiras que nem percebemos o quão previsíveis nos transformam. E o mais impactante: elas moldam quem nós somos, principalmente para as pessoas que mais convivem com a gente. O efeito disso em médio e longo prazo, esse sim, é imprevisível.
Renovar é sinônimo de viver. Não há nada mais constante e permanente do que a impermanência. Ser repetitivo é um sinal claro de estagnação. Tornar-se previsível é como um disco tocando a mesma música: pode ser agradável no começo, mas enjoa e afasta. Cansa. Esgota. Fica sem sal. Perde, com o perdão do trocadilho de minha história, o sabor.
Quão previsível e repetitivo você tem sido? Observe. E tome uma atitude. Faça algo diferente. Vá a lugares distintos. Troque de restaurante. Viva experiências novas. Relembre o gosto da primeira vez que ficou adormecido.
Não se trata de menosprezar o que é bom, mas de não ficar compulsivamente conectado com o mesmo. Do repeat ao pause, às vezes basta um pequeno movimento.
Prefira o play.
"Respostas são como chaves. O desafio é encontrar quais abrem as portas certas"
Livro Lessons in life and business from Elon Musk, de Ryan Foster