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Não espere a escassez

Quanta escassez você precisa para valorizar o que tem?

O Paulo era um colega de trabalho muito gente fina. Tranquilo, risonho e cheio de história para contar. Era (e é) apaixonado por carne vermelha e cerveja. Até que, contou certa vez, fez uns exames e detectou que a gordura concentrada no fígado havia ultrapassado todos os limites. Sua saúde estava em risco.

A recuperação exigia medidas rígidas. O médico apontou a alternativa salvadora: ficar meses a fio sem comer carne nem beber. Era vida ou morte. Paulo escolheu viver. Aguentou os percalços que ele mesmo criou sem pestanejar. Até que, passados seis meses, após novos exames, o médico o liberou para, com parcimônia, retomar a antiga paixão gastronômica.

A descrição do Paulo sobre o reencontro com seu prazer culinário merecia ser apresentada em vídeo, tamanha satisfação. Havia a restrição de tomar uma única latinha de cerveja e comer poucas gramas de carne. Mas era suficiente para atiçar as melhores lembranças. Ele conta que levou o triplo do tempo para beber míseros 350ml. Apreciou cada gota. Mastigou cada pedaço como se fosse o último de sua vida. Desfrutou como nunca do que mais amava.

Tudo que vai acabar ou é restrito nos fascina mais. Na maioria das vezes, a escassez é uma bênção. Nos faz lembrar o quanto algo é bom ou nos faz bem. Ou é ruim e nos faz mal. Quando algo é abundante, quase sempre nos leva a não lhe dar o verdadeiro valor. Não se trata de menosprezo, mas da garantia de que estará ali tão logo seja necessário.

Quanta escassez você precisa para valorizar o que tem? Não falo apenas do belo sapato, da quantidade de comida na geladeira ou da conta bancária no azul. Entra nessa lista, também, o abraço apertado do amigo, o beijo carinhoso dos pais, a certeza de que alguém te ama. Você não precisa ser privado disso para dar valor. Só precisa entender que tudo é finito.

A escassez nos ensina que tudo que temos pode acabar inclusive no próximo minuto. Não sinta falta para compreender o quão bom é algo na sua vida. Aproveite com moderação, mas evite ao máximo a necessidade de agir porque foi empurrado pelo destino. Aprecie tudo sem precisar da certeza do fim.

Curta o instante.

"Tudo aquilo que você tem e não valoriza a vida lhe tira!

Livro Vá em frente!, de Zibia Gasparetto


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